No Outubro Rosa os exames de prevenção do câncer de mama e de saúde em geral da mulher são muito destacados, porém ainda há espera para exames de rotina, como a mamografia. Apesar das cidades contarem com seus serviços próprios, há também apoio do governo do Estado, que oferece vagas em unidades de referência além das carretas da mamografia que percorrem o território paulista, porém, neste mês de outubro a programação das carretas não inclui o ABC. No caso de diagnóstico de câncer de mama, o processo até o atendimento especializado também é difícil, o que preocupa a paciente e reduz a chance de cura por conta da demora.
A médica Patrícia Santi, oncologista e investigadora do CEPHO-FMABC (Centro de Estudos e Pesquisas em Hematologia e Oncologia da Faculdade de Medicina do ABC), fala sobre o câncer na mulher e a importância dos exames preventivos em entrevista nesta terça-feira (02/10). “O câncer de mama é o mais prevalente entre as mulheres, sempre foi e a gente tem caminhado bastante tanto no tratamento como no rastreamento então a gente tem visto o aumento de incidência por conta de diagnósticos precoces. O recado mais importante que a gente dá para as mulheres é que, embora tenha melhorado o muito o tratamento, nada é melhor para curar um câncer de mama do que um diagnóstico precoce, por isso o Outubro Rosa tem a sua importância porque vem conscientizar as mulheres da importância de ser feito o exame para que, se porventura ela vier a desenvolver um câncer, que seja diagnosticado no início”, destaca a especialista.
Patrícia explica que a cura está totalmente ligada ao tamanho do tumor, por isso o diagnóstico precoce é tão importante. “Quanto menor o tumor, maior a chance de cura, a gente está falando de 90%, 95% às vezes mais que isso. Se pega um tumor mais avançado, que já foi para a axila, diminui a chance para 65%, 70%, e isso às custas de um monte de tratamentos que incluem quimioterapia, radioterapia e cirurgia”.
Há causas hereditárias para o câncer de mama, mas elas são responsáveis por 10% dos cânceres, ou seja, o tipo mais comum é o esporádico, por isso quem tem herança hereditária para o câncer deve começar a fazer os exames mais cedo, aos 35 anos, e quem não tem deve fazer também todos os anos à partir dos 40. Sedentarismo, obesidade, tabagismo e consumo de álcool são também fatores de risco que aumentam a chance da mulher desenvolver um câncer de mama, segundo explica a especialista da FMABC.
O auto exame, muito difundido, não deve ser confundido com prevenção. “Ele não é indicado, ele serve para a mulher se conhecer melhor e perceber se há alguma coisa diferente e procurar um médico, o que é preconizado é a mamografia à partir dos 40 anos de idade todos os anos. Se tem risco elevado para câncer de mama, como a mãe que teve ou uma tia, pode começar o rastreamento com 35 anos”, explica a médica.
Fila
A moradora de Santo André, Luciana Godoy, conta que seu exame de mamografia demorou um mês para ser marcado, mas encontrou dificuldade para fazer outro exame de saúde preventiva, o ultrassom transvaginal. Ela conta que foi encaminhada para o Hospital da Mulher e chegou lá no dia 24/09 e encontrou o lugar muito lotado. “Só para fazer a ficha levei mais de 35 minutos, e depois descobri que não tinha nenhum médico chamando, vi várias mulheres grávidas aguardando para fazer ultrasson de mama e ginecológico, mas eu não pude esperar. Como eu sou mãe atípica, tenho um filho autista, tive que voltar logo. Vou tentar remarcar com uma justificativa na ficha e vou tentar a sorte”, disse.
Sobre essas dificuldades a médica Patrícia Santi, diz que ela infelizmente acontece. “Infelizmente é verdade. O que demora no SUS nem é tanto a mamografia, o problema é se ela vem com alguma alteração e então a paciente vai ter uma jornada complicada, longa, para chegar até um mastologista, fazer a biópsia, ver indicação de cirurgia ou não e depois passar pelo oncologista. O problema é chegar no especialista, nisso a gente vem visto algumas barreiras importantes”.
Só quem passou por momentos difíceis em relação à saúde é que sabe o quanto os exames preventivos são importantes. A professora de Santo André, Margarete Suzano Di Cicco, sempre fez os exames preventivos sem falhar, mesmo assim foi surpreendida no ano passado pelo surgimento de uma lesão no seio que se revelou um tipo raro de câncer. Ela fez a cirurgia de mastectomia total e depois a de reconstrução da mama. Por sorte ela não precisou de fazer quimioterapia e radioterapia, isso porque o câncer foi tratado no início, ou seja, se ela ficasse sem os exames preventivos e demorasse para perceber a doença ela só seria detectada quando já em estágio avançado diminuindo as chances de cura.
Margarete não depende do Sistema Único de Saúde, o SUS, é uma paciente que tem plano de saúde, nem por isso as situações envolvendo os exames e o tratamento da doença foram fáceis. Ainda hoje ela briga com o convênio para garantir o atendimento suspenso unilateralmente. Ela avalia que a descoberta em estágio inicial foi decisiva para o bom resultado do tratamento definido pela equipe médica.
“Em todos os lugares onde me deparo com mulheres eu conto um pouco da minha história. Eu sempre fiz, religiosamente os meus exames preventivos, fui mãe muito cedo e sempre fui muito cuidadosa. Em maio do ano passado fiz minha mamografia e estava tudo normal, em outubro notei uma lesão no mamilo, achei primeiro que era da roupa, mas como não sarou procurei o médico, que pediu para repetir a mamografia, depois fui viajar e me ligaram do Hospital Cristóvão da Gama para eu voltar e fazer o exame novamente, voltei preocupada e fiz. Aí fui para o mastologista, fui no Hospital AC Camargo em campanha do câncer. E soube que teria que fazer a mastectomia total eu fiquei aterrorizada. Mas tudo passou, fiz a mastectomia, fiz a cirurgia reparadora e um anjinho passou e eu não precisei da quimioterapia nem da radioterapia. Eu vejo que isso foi porque eu sempre me cuidei e fazia os exames preventivos todo ano”, relata.
A professora diz que os médicos, quando encontram o câncer têm que agir rápido para evitar a metástase. Em dois meses ela já estava pronta para a cirurgia. “Descobriu tem que tirar o câncer logo do seu corpo”, diz. “Lamentavelmente quem depende do serviço público de saúde acaba demorando mais, mas tem que ir atrás tanto para exame de prevenção, como para o atendimento especializado quando já se tem a indicação de problemas. No meu caso foi um câncer que não dá nódulo, porque tem vários tipos, ele aparece no duto do leite. Então as campanhas falam muito de apalpar para ver se não tem nódulo, e isso é importante, mas nada substitui o exame preventivo, no meu caso não tinha nódulo e eu estava com câncer. Eu não sabia disso, para mim câncer era nódulo, mas tem vários tipos”, explica.
SUS
A secretaria Estadual de Saúde não falou sobre quantas mamografias foram feitas este ano de pacientes do ABC. Nem falou sobre quando as carretas da mamografia virão para a região. “A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informa que na região de abrangência do Departamento Regional de Saúde (DRS) da Grande São Paulo, foram realizadas, de janeiro a julho deste ano, 50.216 mamografias. Já em todo o estado, no mesmo período, foram realizados 2.082.933 de exames”, diz nota da pasta estadual.
As cidades da região, em geral, contam com seu próprio serviço de mamografia que, segundo as administrações municipais atende a maior parte da demanda local. Só Rio Grande da Serra que informou que não tem mamógrafo e encaminha as pacientes para o Estado. “Atualmente 59 pacientes estão na fila de espera. A demora para uma mamografia é de cerca de dois meses na cidade. Ao serem encaminhadas para o Estado as pacientes de Rio Grande da Serra são agendadas nas AMEs de Santo André, Barradas e no Hospital Estadual Mario Covas.
São Caetano tem dois mamógrafos que realizam, em média, 540 exames por mês. A prefeitura diz que não há filas para exames e que os urgentes são agendados para até uma semana e os demais dentro de um mês.
São Bernardo tem uma unidade móvel que percorre todas as 34 UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Desde 2019 esse serviço já realizou mais de 15 mil diagnósticos. No mês de outubro a cidade faz campanha de conscientização sobre o câncer de mama e de colo de útero, com oferta de exames de prevenção, de acordo com a programação de cada unidade. No sábado (19/10), haverá ‘Dia D’ com todas as UBSs abertas, das 8h às 17h, para reforçar o atendimento das mulheres, com coleta de exame de Papanicolau e atualização da carteira de vacinação.
A Unidade Móvel de Mamografia de São Bernardo também faz parte do calendário de ‘Dia D’ com oferta de exames em livre demanda, na Praça da Matriz, na Rua Marechal Deodoro. Para pacientes entre 50 e 69 anos, a demanda é espontânea e sem necessidade do pedido médico. Para as demais faixas etárias, o exame é realizado mediante a apresentação do pedido médico, das 8h às 17h, com último bloco de atendimento às 16h.
O centro de especialidades médicas Quarteirão da Saúde, em Diadema tem um mamógrafo que atende a demanda da cidade. A prefeitura informa a realização da mamografia na rede municipal foi retomada em 2021. De janeiro a agosto de 2024, foram agendados 5.085 exames, uma média de 635 mamografias por mês.
Também desde dezembro de 2021 a prefeitura de Mauá fez um mutirão para zerar a fila de espera para mamografias, desde então a cidade não registrou mais filas ara o exame. A demanda era grande, estimada em 5 mil mulheres. 33 meses depois (contando até agosto de 2024), foram realizados 24.655 exames, uma média de aproximadamente 750 por mês. Desde julho de 2022, toda mulher que passa por atendimento na UBS (Unidade Básica de Saúde), e recebe a solicitação da mamografia, já deixam o local com a guia onde estão anotados o dia e a hora marcados, segundo garante a prefeitura.
Mín. 14° Máx. 29°